quinta-feira, 14 de julho de 2011

Um se. Um si.

Tinha cabelos rebeldes.

Mordia o canto direito do lábio inferior deixando à mostra uma fileira de dentes. O molar esquerdo tinha uma pontinha quebrada, herança dos fingimentos pueris: voava num balanço ou mergulhava em uma pocinha d’água.

Nos tempos em que você ainda emitia uma luz desregulada e amarela como ouro roubado. Meu ouro, certamente.

Como podiam seus cabelos ser mais rebeldes que eu inteiro? Mesmo quando chacoalhava meu corpo daquele jeito que você gostava, eu continuava pequeno perto dos longos fios que se enrolavam, moldados propriamente para meus dedos nem tão longos assim.

E íamos, íamos embora como se fosse fácil comprar um sonho. Na Alemanha vimos o gelo derreter, e na França comemos carne mesmo que você não gostasse dessa indústria. Em Londres me joguei do Big Ben só para te provar que eu era seu. Você riu e falou que era pouco. Você sempre queria mais, você sempre queria o Everest. E eu fui, de olhos fechados, enquanto você dormia, já que meu orgulho não deixaria que tal fato fosse gravado na sua memória tão esquecida.

Anos antes, você poderia derreter a neve. Quando te conheci, você era quase um sol. Um pouco mais que isso... Um som meio destonado, uma estrela brilhante demais, que acabava por cegar qualquer um que te visse. E você sorria, como quem não liga, e dizia para si mesmo que era a nota mais bonita que poderia haver. Ah, mas um sol sustenido? Você era estranho, era mais do que o necessário, sobrava. Tinha cabelos penteados demais, longos demais, e um sorriso irônico demais.

Aí se despiu desse calor que me fazia suar. Lá. Lá. Lá.

E enfiava suas mãos finas em luvas grossas, gordinhas assim. Jogava o cabelo para frente para não ter frio nas orelhas e sorria enquanto mordia os lábios (como conseguia?). Mudou tanto num semitom. E aí sentava do meu lado, em cima de mim, e colocava as pernas por cima das minhas. E ficava exatamente sete segundos em silêncio, só respirando minhas palavras, antes de apontar para um cortezinho enfeitado por sangue, pequeno. Fazia biquinho e dizia:

― Cuide, amor, que dói.

E eu sorria por dentro, sem por um momento tirar a expressão de contrariado do rosto. Tirava de ti o sangue com o dedo indicador e depois me colava em você com um band-aid exageradamente infantil.

― Super Homem? ―Você torcia os lábios e os olhos ao mesmo tempo. ― Você sabe que eu gosto mais do Homem Aranha!

Eu novamente assumia o papel de ranzinzo. Dizia que querendo ou não, você era um super homem, e não uma aranha dessas feias que a gente mata com o chinelo. Você ficava sem entender, refletia sobre os prós e contras de saber voar, ser intocável e pegar uma bala no ar. Você ainda preferia soltar teia, tenho certeza que era assim. Algum dia você vai ver o quanto que é bom ter visão de raio laser.

E nem com esses olhos privilegiados entrava na sua cabeça que seu som é o mais bonito do piano.

Depois você fazia café e tomava sozinho, aos goles, aos risos. Sabia que eu não gostava nem do cheiro, mesmo assim me oferecia. Perguntava aonde iríamos amanhã, querendo que eu dissesse que seria à Rússia. Eu falava outro nome, só para revidar o golpe do café. Você sorria mesmo assim e ia dormir. E adormecia! Depois de tomar café. Sempre assim. Com os cabelos em cima do nariz.

Eu sentava do seu lado, acendia a luz (você nunca acordava) e lia seu diário, procurando alguma evidência da minha presença na sua vida. Você narrava com perfeição nossas expedições a tantos países que eu nunca tinha imaginado ir (e nunca fui). E sempre tinha umpronome masculino que equivalia ao meu nome, embora eu nunca achasse.

Mas no rodapé, lá estava eu: “Ele continua cuidando de mim quando eu caio”. Sempre algo nesse gênero. E eu fechava os narizes e olhos e ouvidos e coração e tudo e lembrava claramente da sua perna na minha e sua voz contra a minha, me dizendo que doía.

E não é? Cuide (desse) amor, que dói. Dói de apertar, de afogar, de arrancar fora o que eu conhecia de mim. Dói de acordar de manhã e ver que um dia você não vai estar aqui, e sim fazendo faculdade na Iugoslávia só para me contrariar, porque eu não lhe levei para lá. E por mais que a agonia seja tanta, eu não quero que depois de você, venha um senão. Um se. Um si.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

A revelação

Os olhos fundos, molhados de tanto chorar. Os soluços eram impedidos de serem ouvidos pelas paredes rochosas do banheiro. Seu corpo mudo, mas sua alma gritava em busca de socorro e redenção.
Abriu a torneira e mergulhou suas mãos, enchendo e levando-as à face, tentando disfarçar o inevitável. Tateou a toalha, com os olhos fechados, secou seu rosto.
Abriu a gaveta da cômoda, tirou um revólver de lá e decidiu ser a solução. Estendeu-o em direção à sua fronte e atirou.


- Srta Katlyn
- Sim, sou eu mesma, entre – disse ela ao delegado.
- Temos uma notícia muito séria para dá-la
- Oh, o que houve?
- Sua mãe, essa manhã, infelizmente cometeu suicídio.
Assustada, ela começou a soluçar em desespero, as lágrimas jorravam, deslizando pela face e forravam as curvas de seu colo.
- Você está presa, Srta Katlyn!
- O quê? Mas como assim? Eu não matei a minha mãe, ela que se matou e por que tenho que pagar por isso?
O delegado entregou um envelope para ela e disse:
- Sua mãe pediu para te entregar.
Ela abriu, apressadamente e começou a ler:


“Katlyn, quando descobri que estava grávida, você não tem noção do meu contentamento. Por mais que não fosse esperado, mas o fato de saber que um filho estaria por vir, meus olhos tremeluziam de contentamento.
Eu sofri muito no dia do parto, você já sabe muito bem disso. Quase morri para vê-la nascer e não pense que não morreria não. Morreria sim, por você!
Hoje eu me arrependo de tê-la colocado nesse mundo, se eu pudesse apagaria a sua vida desse lugar que lhe foi concedido. Você não vale nada, é uma imprestável querendo ser metida a riquinha. Sei que você assassinou seu marido com o meu revólver para incriminar-me. Fui presa durante um bom tempo e queria entender como você pôde ser tão fria a ponto de deixar-me lá, comendo o pão que você amassou e colocou em minha boca. Tenho provas que você o matou, guardei e esperei todo o tempo para mostrar a gravação ao delegado.
Quando descobri que foi você, autora do próprio assassinato do seu marido, naquela noite mal consegui dormir e desde aquele dia em diante, você tem tirado minhas noites de sono
O que eu fiz pra você foi ensinar-te toda educação e dar-te o meu amor, mas você pisou em toda estrutura óssea do meu corpo.
Hoje estou destruindo minha vida, para não ter que matar você e ter que viver todos os dias relembrando sua morte. Preferi me matar de repente e deixar que você morra aos poucos, sofrendo, sendo torturada e massacrada na cadeia.
Posso não descansar em paz, mas saiba que de agora em diante suas noites não serão mais as mesmas.


Com total desgosto, desprazer e insatisfação por ti,
aquela infeliz que te colocou no mundo.”

Postado por Natalia Araújo, do Blog Revelando Sentimentos

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Corações separados. Corações unidos


Com as malas prontas, desci as escadas e a cada passo que dava, um pedaço de mim era jogado pelos degraus, completando minha chegada até ele, mas somente com os resquícios de uma alma sofrida.
Eu tinha que partir porque meus pais estavam se mudando e nada os fariam ficar ou, ao menos, me deixarem ficar.
As lágrimas, prontas, começaram a surgir borrando toda a maquiagem que havia passado para evitar mostrar o inchaço dos meus olhos, de tanto que chorei. Eu queria ficar, porque parte da minha vida estava ali, à minha frente, mas não tive alternativas.
Um beijo longo e caprichado foi dado. Axels beijou-me com a alma e pude sentir sua dor em cada movimento que ele fazia. Pela primeira vez o vi chorar. Desmoronou-se em lágrimas e as nossas foram encontradas, enquanto a face dele roçava na minha.
- Nossos momentos estarão presentes em minhas lembranças. Não me deixe aqui sem notícias suas – ele falava, gaguejando e soluçando, enquanto seus olhos eram escondidos pelas gotas amargas da tristeza constante que se petrifica em sua face.
- Por onde quer que eu vá vou te levar para sempre. O que passamos está aqui – eu falava, colocando a mão em meu peito – e nada, nem o maior vendaval será capaz de varrer as lembranças que tivemos. Meu corpo encontrou a verdadeira vida quando encontrou a sua alma e sem ela voltarei ao poço da solidão e da vida inerte que tive. Você é a diferença que me completa! É por isso que te levo aqui no meu coração, aonde quer que eu vá, e voltarei para viver ao seu lado para sempre.
Um fio de riso foi visto nos lábios de Axels e mais um beijo foi dado, dessa vez mais intenso, querendo arrancar-me os lábios para senti-los durante a minha ausência.
- Eu te levo... Te levo aqui comigo, mas voltarei para deixar de ser a pobre mortal que me torno sem a sua presença constante ao meu lado.

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Postado por: Natalia Araújo, do blog Revelando Sentimentos

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Infortúnio da Obssessão

Kelry,

Se chegou até aqui, provavelmente, foi movida pela curiosidade de saber o que eu, sendo sua pior inimiga, poderia tratar com você, por meio de uma carta.
É bem óbvio e você sabe perfeitamente do meu ódio incontestável por você. Eu sei que você roubava meu dinheiro escondido, enquanto tomava banho e que rasgava minhas roupas, quebrava minhas pulseiras dentro do meu baú de jóias e o deixava lá, para eu achar que aconteceu do nada. Pois você acha que sou boba, né? Mas realmente você acertou. Eu sou sim, só que não o bastante para fazer com que você me engane a vida toda. Descobri teus segredos, tuas maldades e agora as tuas armas estão em minhas mãos.
O pior, sua vigarista, ainda tem mais. Descobri mais e isso só foi o início para preparar-me para o pior.
Quando fui visitar mamãe no hospital, ela lembrou que você havia medicado-a com o remédio diário, só que deu alteração no sistema nervoso e ela precisou ser internada. A médica detectou que deram uma mistura gravíssima e ela só não morreu porque meu irmão a viu tremendo no chão e chegou a tempo para ser atendida.
Se você o ama tanto, não é matando minha mãe e destruindo minha vida que você irá conquistá-lo. Eu tenho dó de você e da sua família. Você não é digna do teto que mora, não merece os pais maravilhosos que tem e não vale o chão que pisa.
E saiba mais: Meu irmão casou-se com uma inglesa e não está mais no Brasil; mamãe teve alta do hospital e o seu final... Eu deixo para o término desta carta.
Eis a diferença entre nós: Eu tenho ódio pelas coisas que você fez, por todas as dores que fizeste-me passar, mas não guardarei esse sentimento dentro de mim, porque quem tem um inimigo dorme com ele, acorda com ele, alimenta-se e vive com ele. E, de você, eu não quero nem o pensamento. Por isso, hoje, apago-te da memória. Não tenho amor e nem ódio por você, apenas nem lembro mais sua existência.
Você não foi completamente um nada pra mim, reconheço sua importância. Sim, você foi. Porque você me fez crescer, me ensinou que não devo confiar inteiramente nas pessoas, o tanto quanto confiei em ti. Mas foi somente até aqui.

Agora o seu fim está logo atrás de você, esperando que termine de ler esta carta.
Você está presa, Kerly
.


Daquela que tinha você no passado como a melhor amiga,
mas hoje a tem como a maior lição de vida para valorizar cada instante vivido.
Magg.

quarta-feira, 15 de junho de 2011


O verdadeiro amor trabalha disfarçado de amizade?
Eu conhecia o seus segredos e ele sabia de mim os meus sonhos,meus desejos começo meio e fim.Cada historia das mais bonitas as mais banais,ele sabia bem o que eu era se ele fosse eu também ia. Então aprendi que o amor as vezes se esconde nos olhos de quem sabe bem o que você é,o verdadeiro amor trabalhar disfarçado de amizade! Assim como goiabada e queijo,Eduardo e Mónica,Verde e vermelho,nós éramos a combinação perfeita e somos até hoje. Faz hoje um ano de namoro ainda lembro daquela tarde na praia no dia dos namorados que fomos apenas pra passar um dia normal, pensei, mas ali ele me  esperava com uma flor ...fui suprendida com seu amor..um beijo eu ganhei e um sim ele levou  e nossa historia em fim se completou.

''Antes mesmo de nascer, Deus sabe quem vai te fazer feliz para sempre.''