segunda-feira, 20 de setembro de 2010

.All you need is love.

   O relógio já marcava as dez. Vesti minha calça jeans, minha camiseta e meu casaco, peguei a mochila e saí pela porta do quarto, em silêncio. Tranquei o portão e peguei a chave. 
   O vento acariciava minha pele, bem de leve. Era um calmante, de certa forma.
   Encontrei-o na metade do caminho.
   - Evangeline...
   - Ah, oi Jeff! Achei que não te encontraria por aqui hoje...
   - Ah, querida, achou que eu me esqueceria de você?
   - Deixa de ser bobo...
   - E então, aonde está indo? - perguntou.
   - Preciso fazer um coisa muito importante.
   - Não me diga que vai estudar com aquele idiota de novo?
   - Não, Jeff, não vou...
   - Assim não vou adivinhar nunca. Me dá uma pista? 
   - Calma, não precisa ficar ansioso.
    Continuei caminhando pela escura avenida até que cheguei ao lugar que queria. Joguei minha mochila no chão e me sentei, deitando a cabeça nos joelhos. Era agora ou nunca.
   - Um beco?
   - Eu disse para não ficar ansioso! Não era nada!
   - Ah... parece que estava falando sério... - murmurou - Bom, tenho que ir. Até mais!
   - Até! E... Jeff? 
   - O quê?
   - Eu te amo...
   - Eu também. 
    E ele desapareceu na escuridão daquela avenida vazia. 
    Era hora de pesar os prós e os contras. A vida já havia me tirado muito para eu pensar que ainda tinha alguma coisa. E, seja pela morte ou não, todo mundo que eu amava tinha partido: Minha mãe - falecida de câncer -, meu pai - edema pulmonar-, minha irmã - assassinada pelo ex-namorado - e meu único e eterno amor, Jeff, morto com três tiros na cabeça... fora as pessoas que foram para longe, morar em outras cidades ou outros países. Querendo ou não, eu estava só.  
   Destaquei uma folha do meu caderno e peguei a única caneta que me restava no estojo. Foi então que me lembrei de uma música dos Beatles. Com a letra torta escrevi um trecho:
   "All you need is love..."
   Tudo o que preciso, é de amor, certo? Pois é disso que estou correndo atrás.
   Dobrei o papel e coloquei-o no chão.
   Abri o bolso e peguei o pequeno pote. Destampei e joguei sessenta comprimidos na mão. Enfiei-os na boca e engoli. 
   Depois disso, vi meu mundo se apagar e tudo perder o sentido.
   E o que importava? Jeff me esperava do outro lado da vida. E agora, com certeza, eu faria a travessia...



2 comentários:

  1. Aí que história triste, mas ao mesmo tempo tão linda. Acho que todos precisamos de amor e Evangeline desistiu da vida para alcança-lo, não sei se faria o mesmo.
    Beijoos

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  2. Nooossa.. que tocante. Forte!

    É tão triste que chega a ser bonito.

    Beijos

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