segunda-feira, 13 de setembro de 2010

.Passado.

     Bianca tomava a quarta dose de uísque quando Pablo entrou pelas portas de vidro. Carregava na mão uma maleta preta e nos lábios um cigarro e um sorriso de múltiplas interpretações. O homem despencou no banco ao lado dela e bateu com força as mãos no balcão, berrando o nome da garçonete.
   - Uísque duplo, Rita. - falou com a voz afetada.
   - Oi. - Bianca falou, maliciosa. - Tudo bem, gato? 
   - Qual é, Bia. - ele riu. - Tá querendo enganar a quem?
   - É, - suspirou - Tem razão. 
   - Então, - continuou ele - O que faz aqui? 
   - O mesmo que você, eu acho. - devolveu, sorrindo. - Mike foi embora, sabia? 
   - Não. 
   - Pois é, foi. - suspirou - E deixou Megan comigo. Quero ver como vou fazer para criar uma criança. 
   - Você dá conta, Bia. - ele afagou sua mão, puxando para seus braços. 
   É inevitável o carinho entre dois amigos que não se vêem desde o colégio. Com Bianca e com Pablo foi assim. Estudaram juntos na UERJ e se separaram depois disso. Ele se tornou um empresário de sucesso e ela bem... continuou parada onde estava. 
   - Quer ir lá para casa, amor? - perguntou ele, enxugando as lágrimas que ela começou a derramar. 
   - Seria bom. - concordou Bianca. - Minha vida já é um lixo mesmo. Pior do que tá não fica. 
   - Deixa de ser tão melodramática, Bianca! - revirou os olhos, ajudando-a com a bolsa. Pablo engoliu o resto do uísque e pegou a maleta do chão. - Vamos. Estacionei meu carro do outro lado da rua. 
   O carro de Pablo estava estacionado em frente ao Hotel Palace. Bianca abriu a porta do carona e desabou no banco de couro. Ele se sentou no banco do motorista e deu a partida, avançando com facilidade pelo trânsito normalmente turbulento. O tempo todo Bia sorria, lembrando dos tempos de faculdade, quando os dois saíam no meio da noite para beber escondido. 
    Sempre foram revoltados.
   - Sinto sua falta. - disse ela, engolindo mais lágrimas. 
   - Eu também sinto a sua. - ele sorriu - era minha melhor amiga, se lembra? 
   - Ainda sou. - piscou para ele, brincando. 
   - Boba. - respondeu, rindo.
   Ao que tudo indicava, desde a última vez em que se viram, Pablo dobrou sua fortuna. Agora morava no Amalium, um condomínio fechado ao sul do bairro Mangabeiras. Bianca bufou, sonhando em viver lá com ele. Quando eram novos, prometeram se casar. Agora essa promessa tinha morrido no vácuo. 
   Os dois entraram no primeiro prédio, apartamento cento e sete. Mal entrou, tirou os sapatos e o casaco, largando ambos no sofá. Um cheiro forte de café vinha da cozinha. Ela se perguntou se a esposa dele estava em casa. Pelo que parecia, não. 
   - Eu te amo, Pablo. - ela confessou, corando. 
   - Eu sempre te amei. 
   Ele pegou-a pelos braços e beijou seu pescoço. Bianca tremeu, caindo sentada no sofá. Ele sentou-se ao lado dela, puxando-a para o seu colo. Mais beijos, mais arrepios, mais promessas. Podiam ficar assim a noite inteira, mas às duas da manhã o cansaço venceu os dois e caíram no sono no sofá mesmo. 
   Pelo menos ele. 
   Bianca sabia que aquela não era sua vida, aquele não era seu lugar. Por isso recolheu a bolsa e as sandálias do chão e saiu pela porta. Em sua pele o perfume de Pablo e em seu coração um buraco sem nome e um sentimento estranho, chamado amor.



Leeti 
Blog: Corta esse BLÁ-BLÁ-BLÁ

2 comentários:

  1. Aiii que lindo, lindo *.*

    Coloca seu nome embaixo e o link do seu blog, flor.

    Vou preparar uma marcação pra nossas postagens. Logo mais.

    Bjos

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  2. Aí que lindo Leticía. Só é bom reviver o passado quando ele é tão bom como esse.
    Beijos.

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Obrigada por estar comentando, volte sempre ;*