quinta-feira, 24 de março de 2011

Do You Remember?




Rio de Janeiro, 21 de agosto de 1954

Não existem motivos. Não existem escolhas. Não existe força que me faça voltar atrás. Desde a última vez que aquela mesma porta foi fechada, coisas mudaram dentro de mim. A chave que deixou na mesinha da sala. O guarda-roupas vazio. O silêncio que ecoou durante muito tempo depois da sua partida. Absolutamente tudo. Absolutamente nada. Não tenho como explicar meus sentimentos. Como eu poderia detalhar para alguém o que nem mesmo eu entendo? E tudo o que lhe escrevo nessa carta, o faço não para que compreenda e sim para que sinta, ou ao menos tente sentir as batidas lentas do meu coração. Esses dias lembrei de quando paramos para observar a lua no céu, a beleza da luz branca que iluminava o nosso amor. Hoje a lua está da mesma forma que naquele remoto dia, e enquanto escrevo essas palavras a observo como antes, agora porém ... sozinha. A pergunta que me faço sempre é porque todas as juras e promessas que um dia me fez desmoronaram como um frágil castelo de areia. Nunca entendi o porque do fim, mas me conformei porque percebi depois de um longo tempo que eu precisava recomeçar. Mudanças. Novos planos. Novos amores? Talvez. A vida é um jogo, difícil e doloroso de ser jogado. Quando os dados são lançados sobre a mesa tudo é incerto, nada é definido, e dependendo do resultado vencemos ou perdemos. Levando em consideração os fatos, vejo que os dados precisam novamente serem jogados, o resultado hoje é o que menos importa, só preciso do tão desejado recomeço, onde deixarei no passado aquilo que ao passado pertence, onde queimarei sentimentos antigos, esquecerei perguntas sem resposta, e passarei a inventar respostas para perguntas ainda inexistentes. Esquecer-te será como arrancar de mim meu coração, mas consiguirei. Deixarei morrer os anos que se foram e se algum dia chegar a ler essa carta, saiba que o recomeço aconteceu, segui minha vida depois da sua partida sem explicação e fui feliz, mesmo que nesse momento não consiga enxergar nem a sombra da felicidade. Aqui me despeço, de você e do que sou, o mesmo ponto final que darei aqui, darei também nos caminhos que se foram e buscarei mudar a direção dos meus passos, esperando que eles me levem a novos e excitantes caminhos.

Daquela que te amou, Laura.

Postagem por Angus Cailleach This is Me

12 comentários:

  1. bom texto e eu acho que a vida é um jogo.

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  2. UAL , ja virei fã do seu blog
    seguindo :)

    http://eugostodadiversidade.blogspot.com/
    segue o meu tb ?

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  3. Caminhos que levam ao caos, vazio e constante.

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  4. Um texto repleto de emoção e dinamismo, gostei bastante!

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  5. Mto bom, a vida é assim cheia de fins e recomeços.
    startte.blogspot.com

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  6. Linda carta, gosto muito desse tipo de escrita, me fez lembrar o livro "Tudo Que Eu Queria Te Dizer" da Martha Medeiros, só sobre cartas que por algum motivo, nunca foram enviadas.

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  7. Que coisa mais melancólica. Nem triste, nem feia, nem sem sentido, mas melancólica. Uma pessoa que tenta superar o passado mas que não o consegue e que através da carta, revive lembranças já há tanto deixadas. Mas de certa forma, gostei. Está muito bem escrita.
    (obs.: Laura é o mesmo nome de minha mãe)
    Bjo! (:

    http://miasamarah.blogspot.com/

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  8. Que legal ;]
    Adorei.
    http://garotasnasruas.blogspot.com/

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  9. É triste, é sentimetnal, é lindo. A dor está explícita nas palavras da personagem e isso me cativou muito. Eu, particularmente, adoro cartas. Não sei, mas acho que é algo tão bonito... Você escreve muito bem, e me identifiquei com esse texto, já passei e escrevi algo bem parecido. Já te sigo aqui, um beijo :*


    http://railmamedeiros.blogspot.com/

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  10. Texto muito bom de se ler. Arrepiante em alguns momentos onde se confundem com as minhas palavras que deveriam ter sido ditas tempos atrás mas por falta de coragem simplesmente não saíram!
    Cada vez mais fã daqui!

    Um beijo.

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