A maré alta molhava nossos pés descalços. Os meus tremiam de ansiedade e desconforto. Os de Leo apenas balançavam ao som da música que ouvia em seu IPod. Pelo pouco que podia ouvir, quem cantava era John Lennon.
- Quando ela vem, Leo?
- Daqui a pouco, eu prometo. - lançou-me um sorriso encorajador. - Quer repassar o plano?
- É sempre bom. - pigarreei, nervosa - Ela vai chegar. Eu te dou um selinho e digo que vou comprar sorvete. Nisso você fica falando de mim até ela dar um ataque. Daí você fala que é ela que você ama de verdade. Fim.
- Perfeito! - bateu palmas exageradas. - Só uma coisa...
- O quê?
- Tenta tremer menos na hora. - debochou - Aliás, por que está tão nervosa?
- Não sou boa atriz.
- Mas é minha melhor amiga e sei que pode fazer isso por mim. Vai... Por favor?
- Tudo bem. - concordei, com um suspiro resignado.
- Eu te amo, Kay!
Em seus braços fortes eu quase acreditava nele. E quando sua boca encontrou a minha, acreditei por completo. Um beijo rápido e afobado.
- Por que fez isso? - perguntei, ofegando.
- Tenho que ser convincente. - seus olhos se desviaram para a moça alta e magra que vinha em nossa direção. A ex-namorada dele e a vítima do nosso plano. Respirei fundo e me preparei para a atuação. - Calma Kay... - ele sussurrou, apertando a minha mão.
- Oi, amores - nos cumprimentou secamente, enquanto tirava o cabelo comprido do rosto. - Como vão vocês?
- Bem, obrigada. - respondi, pouco à vontade - Já volto, amor. - disse, beijando de leve os lábios de Leo - Vou comprar um sorvete.
- Não vai, não. - me prendeu pela mão - Meredith, essa aqui é Kayla, minha namorada.
- No-nossa! - vi seu queixo cair de surpresa e indignação. Era como se ela já soubesse do plano inicial e tivesse se surpreendido com o rumo que tomou. - Então os amiguinhos se tornaram pombinhos? Que meigo...
Ela sorriu em toda sua falsidade, arrancando um riso zombeteiro de Leo.
- Irônico, não? - arqueei uma sobrancelha e sorri maliciosamente.
- Não. É ridículo.
Meredith deu as costas e caminhou em direção à esquina da Herdlock com a Brighthere, sumindo após uma empinada de bumbum.
Ficamos calados por um bom tempo, envergonhados demais para falar.
Até que, não resistindo, perguntei:
- O que foi isso?
- Acho que gostei mais do que devia de te beijar.
- Ah. - murmurei, assentindo e pegando sua mão.
Ali, éramos um retrato perfeito de dois amigos sentados, conversando na beira do mar.
Ou mais que amigos.
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