Amarga lembrança

Ela, rapidamente, pegou o aparelho telefônico que tocava insistentemente e atendeu:
- Oi, senhor Landon.
- Christine, tenho notícias! Os libaneses estão precisando de reforços. As tropas que têm lá não estão sendo suficientes para anular a guerra. Já foram liberadas duas tropas de estados distintos e agora precisamos ir até lá. Eu convoquei você!
- Mas, senhor, minha mãe acabou de falecer. Estou sem forças!
- Eu sinto muito, Christine. Convoquei todos da sua turma e você está inclusa. Não posso fazer mais nada por você. A não ser, dar uma folga sem tempo prévio para retorno. Se é que me entendeu.
Aquelas palavras alastraram-se no coração dela. Desligou o telefone e sabia que, querendo ou não, ela teria que cumprir a sua missão.
O país em que sua mãe nascera, estava em guerra e ela faria o que prometeu a sua querida mãezinha, a qualquer custo: lutar até o fim pelo país em que nasceu.
No dia seguinte, pegou suas malas – já no aeroporto –, olhou para a pequena garotinha que a fitava com receio do que pudesse acontecer, pois, mesmo criança, já sabia do que se tratava. Ela agachou-se, abraçou-a e as lágrimas deslizavam por sua face, molhando os ombros da outra.
Tudo que sua mãe pedira ela realizava e, agora, ela tinha que honrar, por mais dolorido que pudesse ser. O medo, petrificado em seu peito, era evidente. Ela poderia não voltar e sua querida irmãzinha, viveria sozinha, sem a sua proteção.

Meus soluços fortificaram-se. Levantei-me do banco e saí.
Continuar vendo aquela cena brutal, no filme, forçaria minha memória, num momento em que mais queria esquecer: a morte da minha própria mãe, ao tentar lutar para salvar o seu lugar de origem.
Ele ganhou a luta, a batalha, mas ela foi derrotada pelo seu próprio país. A perdi e dinheiro algum, força brutal alguma ou vitórias em guerras me trarão de volta. Porque vale mais manter a vida, do que perdê-la para honrar algo que nem sabe da nossa existência.

Por: Natalia Araújo, do Revelando Sentimentos